Tinha 18 anos quando o sucessso, fama e dinheiro passaram a fazer parte da vida de Waris. "Mas posso-te contar um segredo? Por tudo que vivi e sofri, não penses que eu gosto de ficar em hotéis 5 estrelas. Sou de família simples e gosto de gente, de me comunicar, de ser realmente livre", diz a ex-modelo, hoje embaixadora da ONU para o combate à mutilação genital feminina e fundadora da ONG Waris Dirie Foundation que, desde 2002, luta para erradicar de vez essa prática do mundo. "Fico feliz em saber que com os trabalhos de divulgação e alerta, 16 países na África já aprovaram a proibição desse costume", comemora.
Estima-se que 140 milhões de mulheres tenham sido submetidas à Mutilação Genital Feminina em várias partes do mundo, tudo em nome da "tradição". A África lidera esse triste ranking. No continente negro mais de 20 países usam dessa prática para limitar o prazer feminino. Mas essa prática sem sentido não é feita apenas em nome de crenças, como conta Waris Dirie: Pelas muitas frentes de combate, a Mutilação Genital Feminina é uma prática condenada em todo o mundo.
Mas por que tal brutalidade ainda é tão praticada?
Uma das razões é que virou uma forma de comércio. Os pais vendem as filhas em troca de dinheiro. É ele, na maioria das vezes, que ordena que a menina seja mutilada. Elas são trocadas por dinheiro ou qualquer outra coisa do interesse paterno.
O problema, então, vai além do factor cultural?
Sim, a pobreza faz com que ele aconteça. É um problema terrível e acredito que se nos livrarmos da pobreza, da miséria, nos livramos também da Mutilação Genital Feminina.
Depois de sair da Somália e de se tornar uma top model de sucesso, qual o seu grande objetivo?
Eu quero poder dormir e acordar livre para voar, sinto que estou só começando a luta. Quero poder abrir os olhos e ver homens, mulheres e crianças sendo respeitadas pelo que são e pelo que procuram. Descobri que faço parte do coro de mulheres que dizem NÃO quando o assunto é a violência.
Acredita que está conseguindo?
Estou aqui para falar da minha dor e do meu sofrimento, mas também para falar do resultado. Muitos acreditam que a mulitilação é certa, principalmente mães e avós. Elas acreditam que se suas filhas não forem cortadas nunca arranjarão um marido. É um absurdo! Não podemos permitir que tais costumes venham aterrorizar as nossas filhas. Percebo que meu sofrimento mudou a minha família, o meu bairro está mudando, consequentemente, o meu país, a Somália. O mundo em que vivemos também mudará. Eu tendo a oportunidade de dizer não à violência, eu direi, em qualquer lugar, em qualquer idioma. E quando não mais conseguir falar vou mostrar.
Fonte:http://wjdwdefesadamulher.blogspot.com/2010/04/modelo-somali-waris-dirie-luta-contra.html
Por: Katia Ventura